20200924_204702

Ricina: uma proteína vegetal tóxica e sua aplicação no combate ao câncer


A Ricinus communis L, conhecida popularmente ricina é uma poderosa toxina vegetal presente na mamona, ela foi descoberta pelo pesquisador alemão Hermann Stillmark enquanto trabalhava com extrato de sementes de mamona, ao notar uma substância com propriedades aglutinantes quando injetada em ratos e então a batizou de ricina.

A toxicidade da ricina se deve ao fato de ela ser uma proteína do tipo RIP (proteínas inativadoras de ribossomos), isto é, ela entra nas células animais e se liga a ribossomos, causando a parada total da produção de proteínas, matando assim a célula. Após estudos da estrutura da ricina serem feitos, foi verificado que ela é formada por duas subunidades unidas por pontes dissulfeto: uma cadeia RTA responsável por se ligar aos ribossomos, garantindo a característica citotóxica da proteína; e uma cadeia RTB responsável pela entrada da ricina na célula. Sendo assim, quando as duas subunidades são isoladas a proteína se torna inofensiva, pois a cadeia tóxica RTA não consegue penetrar na célula sozinha.

Figura: estrutura da ricina

Fonte: Faculdade de Farmácia Universidade do Porto

Fonte: Faculdade de Farmácia Universidade do Porto

Entretanto, a propriedade tóxica da ricina também gera aplicações importantes, como no área da saúde humana. A cadeia RTA da proteína pode ser isolada e ligada a outras substâncias, como anticorpos, formando uma proteína híbrida chamada imunotoxina, esta seria capaz de selecionar células específicas e combatê-las, por conta disso a ricina está sendo estudada como uma forma de combate às células cancerosas. O processo de obtenção dos anticorpos para a criação da imunotoxina pode ser feita a partir de um processo onde se injeta um antígeno em um animal de grande porte, e após isso, retira-se uma amostra de sangue deste animal, neste caso, são obtidos vários anticorpos diferentes, que identificam o antígeno através de diferentes partes do mesmo, por conta disso esses anticorpos são conhecidos como policlonais.
Porém para que o tratamento seja efetivo e seguro, é necessário que a imunotoxina apresente uma alta especificidade por células malignas, então deve-se cria-las a partir de anticorpos monoclonais, produzidos in vitro feitas de uma fusão do anticorpo específico com outro de fácil reprodução. Assim a região do anticorpo monoclonal sendo responsável pela identificação e entrada nas células cancerosas e a cadeia RTA responsável por combatê-las.

A própria toxicidade da ricina é, portanto, a chave para seu potencial no combate ao câncer. Tal característica se expande as mais diversas substâncias e processos, utilizando-se o conhecimento científico pode-se transformar algo inicialmente perigoso, em algo benéfico e ,até mesmo, essencial.

Bibliografia:

VITTETA, E. Biomedical and biodefense uses for ricin. Disponível em: < http://www.actionbioscience.org/newfrontiers/vitetta.html.> Acesso em: 15 set. 2020

HOFFMAN, L. ASSIS, A. MEDEIROS, PAULO. SOARES, L. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. (2007). Ricina: Um Impasse para Utilização da Torta de. Embrapa Algodão, 26.

Smith, V. I.-D. (28 de março de 2012). InTech-Ricin. Fonte: InTech: http://cdn.intechopen.com/pdfs/33127/InTechRicin_perspective_in_bioterrorism.pdf