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Poluentes atmosféricos em museus: o ar que a arte “respira”


  A qualidade do ar interior tornou-se uma preocupação significativa da comunidade nas últimas duas décadas, visto que as pessoas passam mais de 90% do tempo em um ambiente interno e mais de 7% em seus carros fechados e com baixa circulação de ar. Nos museus, a exposição de objetos de arte em vitrines é muito utilizada por motivos de segurança e de proteção contra a poluição externa, mas os poluentes gerados dentro das vitrines, muitas vezes emitidos pelos próprios objetos ou pelo material utilizado na sua confecção, podem se acumular e promover a deterioração do patrimônio histórico.

Figura 1: Novas vitrines para múmias do Museu Nacional Fonte: www.blogs.oglobo.globo.com

Imagem 1: Novas vitrines para múmias do Museu Nacional; Fonte: www.blogs.oglobo.globo.com

  Um poluente pode ser definido como um composto químico reativo, passível de ser encontrado no estado líquido, gasoso ou particulado. Os poluentes são considerados primários quando são liberados diretamente para a atmosfera pelas fontes de emissão e secundários quando formados a partir de reações químicas em que participam os poluentes primários. Os compostos orgânicos voláteis (COVs) são poluentes internos que, mesmo em baixa concentração, podem produzir sensação de mal-estar ou tontura, aumentar o risco de asma e afetar os sistemas imunológico, nervoso e reprodutivo além de poderem ser liberados de diversas fontes, incluindo os materiais que compõem os próprios artefatos. Além disso, estes poluentes apresentam um risco ao patrimônio cultural, visto que podem reagir com as obras de artes presentes em museus e galerias, modificando sua estrutura química.

  A exposição a uma atmosfera rica em poluentes voláteis pode colocar em risco as coleções de museus, galerias, bibliotecas ou arquivos. Monitorar poluentes voláteis em museus é ainda hoje uma prática pouco habitual na maioria das instituições. A existência de poluentes em locais fechados, com inadequada renovação de ar, em simultâneo com valores elevados ou oscilações significativas de temperatura e umidade relativa, pode conduzir à degradação acentuada dos materiais mais reativos.

Figura 2: Limpeza e inspeção de coleções em museu Fonte: www.museudaimigracao.org.br

Imagem 2: Limpeza e inspeção de coleções em museu; Fonte: www.museudaimigracao.org.br

  Durante muito tempo, a única ferramenta disponível aos conservadores para avaliar o impacto do ar atmosférico circundante nos objetos de coleções foi a simples inspeção visual. Atualmente, a Microextração em Fase Sólida (SPME) acoplada à detecção por GC/MS é a técnica de extração e pré-concentração prévia à análise por cromatografia gasosa que tem sido utilizada na análise qualitativa e quantitativa de COVs em microclimas de museus com resultados bastante satisfatórios, apresentando grande facilidade de execução do ponto de vista laboratorial. O dispositivo SPME inclui uma agulha em cuja ponta é posicionada uma fibra coberta com um polímero ou um sólido adsorvente que extrai os analitos voláteis da amostra recolhida por absorção ou adsorção e que é depois introduzida no GC/MS para dessorção a temperatura elevada e análise

  Desde meados do século XX que cientistas da conservação propõem técnicas de medição de níveis de poluentes gasosos em museus e sugerem alternativas para mitigar o efeito danoso que estes possam vir a ter sobre as coleções. Para reduzir o contato dos poluentes com as coleções, seja nas vitrinas, reservas técnicas ou áreas expositivas, é essencial conhecer as suas fontes. Perceber os possíveis poluentes gasosos libertados pelos materiais de construção, materiais das próprias obras ou mesmo pelos visitantes, e traçar estratégias para eliminar as fontes ou minimizar os compostos emitidos, é um aspeto fundamental para uma análise de riscos adequada.

  Pesquisadores e curadores reconhecem que a poluição atmosférica é uma das maiores ameaças aos objetos de arte. Vários estudos já reportaram os efeitos adversos causados ao patrimônio histórico cultural devido à exposição ao material particulado. Entre os gases, os mais danosos são os compostos orgânicos voláteis (COVs), em particular benzeno, tolueno, etilbenzeno e xilenos (BTEX), e compostos carboxílicos como o ácido acético. A caracterização do MP e de gases orgânicos e inorgânicos pode, portanto, contribuir significativamente para a prevenção da deterioração de obras de arte.

 

 

 

Bibliografia:

Murilo de Oliveira Souza; Olga Vilanova; Benigno Sanchez; Maria Cristina Canela et al. Poluentes do ar Interior no Museu Arqueológico Nacional da Espanha: Avaliação Quimométrica em resultados de quatro anos de estudo. In: XII CONFICT – V CONPG 2020, 2020, Campos dos Goytacazes. Anais eletrônicos… Campinas, Galoá, 2020. Disponível em: <https://proceedings.science/confict-conpg-2020/papers/poluentes-do-ar-interior-no-museu-arqueologico-nacional-da-espanha–avaliacao-quimometrica-em-resultados-de-quatro-anos-> Acesso em: 26 janeiro de 2022.

Ana Flavia L. Godoi; Marianne Stranger; Sanja Potgieter-Vermaak; Ricardo H. M. Godoi et al. Poluentes Atmosféricos em Museus. Disponível em: < http://sec.sbq.org.br/cdrom/30ra/resumos/T1784-2.pdf> Acesso em: 17 de fevereiro de 2022.

Karen Barbosa; Teresa Ferreira; Patrícia Moreira; Eduarda Vieira. Monitorização de gases poluentes em microclimas de museus: estratégia relevante para a conservação preventiva. Disponível em: < https://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/35586/1/24649_Manuscrito_95865_1_10_20210522.pdf> Acesso em: 17 de fevereiro de 2022.