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Contextualizando Química Ambiental com a série Ragnarok


A série “Ragnarok” é uma produção Norueguesa, disponibilizada mundialmente pela plataforma de streaming Netflix, a série conta atualmente com duas temporadas, e tem a ampla mitologia nórdica como eixo central da história. No entanto, saindo de uma abordagem fictícia, o enredo se propõe a trazer uma temática que pode vim a gerar amplas discussões, incluindo em aulas de química, a poluição das águas da pequena cidade de Edda, local central na história.

As indústria Jutul, umas das maiores do país no contexto da série, são a grande responsável pela poluição, a indústria trabalha em diversos ramos, como tintas e petróleo, e está sendo investigada desde o início da trama por crimes ambientais. Na segunda temporada da série, uma análise ambiental conclui que as águas da cidade estão com elevados níveis de diversos metais pesados, como: Cádmio(Cd), Chumbo(Pb) e Mercúrio(Hg). Os 3 metais são extremamente tóxicos, e eram consumidos pela  população diariamente à cada vez que bebiam água na torneira.

Figuras 1: Avisos distribuídos por toda cidade após a descoberta

Fonte: Netflix

Fonte: Netflix

Nesse sentido, a trama da série pode ser usada para contextualizar o assunto de Química Ambiental, com enfoque na poluição das águas, metais pesados, e seus efeitos. O professor pode discutir inicialmente sobre os diversos conceitos de metais pesados, de acordo com Bittar (2008), metais pesados são aqueles que possuem massa específica maior que 6 g/cm3, já Lima (2011) apresenta que são metais de elevada massa atômica (maior que a do sódio), ou ainda elevado número atômico (maior que o do cálcio). Tais definições permitem a discussão de conteúdos como propriedades da matéria e atomística.

Um outro ponto é a razão pela qual os metais pesados são tóxicos. Atkins (2011) apresenta que um dos motivos da toxicidade de um metal é a semelhança química do seu cátion com outros que são essenciais ao organismo, por exemplo o Cd2+ possui um raio atômico de 103pm, que é muito próximo do raio do Ca2+ (100pm), com isto, o cádmio pode vim a substituir o  cálcio em seus processos biológicos, como na constituição dos ossos, levando à problemas. Nesta perspectiva, pode-se trabalhar conteúdos como propriedades periódicas, e então  explorar os metais apresentados na série.

Primeiramente, o Cádmio é um elemento não essencial ao nosso organismo, sendo tóxico tanto para plantas como animais. Dentre as principais atividades antrópicas que levam o Cd ao ambiente pode-se citar a mineração e refino de metais. Como alguns efeitos, ele se acumula em órgãos como fígado e rins, provoca aumento da pressão sanguínea, lesões em órgãos e tecidos, e destruição de células vermelhas no sangue. Já o Chumbo, assim como o cádmio é não-essencial, é tóxico por ingestão e se caracteriza como um veneno cumulativo, o Pb é utilizado em uma série de produtos, como tubulações, munições, tintas, porém, devido sua alta toxicidade, seus usos vem sendo progressivamente reduzidos. Em termos de efeitos, a intoxicação aguda por esse metal pode afetar severamente o cérebro, rins, fígado, além dos sistemas nervoso e reprodutivo, em casos sérios, podendo levar a morte (BITTAR, 2008).

Por último, mas não menos perigoso, o Mercúrio é um dos metais mais comentados quando se fala em poluição e toxicidade. Sua elevada periculosidade limita suas aplicações, porém ele é muitas vezes utilizado de forma ilegal, como no garimpo de ouro. Dentre os efeitos da sua ingestão pode-se citar severos efeitos no sistema neurológico, além dos tratos gastrointestinal e urinário (FRAGOMENI, 2010).

Ragnarok é uma série bastante interessante, com uma abordagem fictícia que chama atenção e prende o interesse daqueles que gostam de suspense e/ou ação,  a junção desses elementos a uma séria discussão socioambiental faz com que a  obra seja um prato cheio  para discutir não só química, mas também outras áreas que lidam com a questão ambiental, como biologia e geografia. A série também mostra a importância da mobilização da sociedade frente a situações como a descrita, e a necessidade de um regular monitoramento ambiental por parte do governo. A soma de todos esses fatores mostra que a mídia pode ser inserida em aulas de um modo interdisciplinar, e ser uma geradora de discussões pertinentes para a formação cidadã.

Bibliografia:

ATKINS, P.; JONES, L.; Princípios de Química, questionando a vida moderna e o meio ambiente; 5ª Ed, Bookman Companhia Ed., 2011.

BITTAR, Dayana Borges et al. Determinação dos metais pesados Cd, Cu, Cr e Pb nas águas do Rio Uberabinha e proposta de adsorção por adsorventes naturais. 2008.

FRAGOMENI, Luiz Paulo de Moura; ROISENBERG, Ari; MIRLEAN, Nicolai. Poluição por mercúrio em aterros urbanos do período colonial no extremo sul do Brasil. Química Nova, v. 33, p. 1631-1635, 2010.

LIMA, Verônica Ferreira; MERÇON, Fábio. Metais pesados no ensino de química. Química nova na escola, v. 33, n. 4, p. 199-205, 2011.