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A Química do jeans


     O jeans faz parte da vida de pessoas das mais diferentes faixas etárias, classes sociais, etnias, religiões, etc. A princípio, as roupas feitas com este material eram utilizadas com mais frequência por operários em fábricas e mineradores até mesmo como cobertura para tendas e vagões, devido à sua alta resistência e valor acessível de produção.  Com o passar do tempo, as peças ganharam popularidade e se espalharam pelo mundo inteiro e sua produção chegou a níveis altíssimos. De acordo com a ABIT (Associação Brasileira de Indústria Têxtil e de Confecção) o Brasil é considerado referência mundial na produção de jeans sendo um dos principais produtores e consumidores, movimentando mais de R$8 bilhões por ano.

     O tecido é feito de algodão e o índigo (corante azul também conhecido como anil). O algodão, principal componente do jeans, é constituído por aproximadamente 90% de celulose, um polissacarídeo de fórmula (C6H10O5)n. A celulose é composta de β-glicose (Figura 1a), que forma longas cadeias, resultando em um polímero que, ao ser observado em um microscópio, pode ser visto com finas fibras (Figura 1b).

Figura 1. (a) Estrutura química da β-glicose e (b) fibras de celulose vistas ao microscópio. (Fonte: http://www.jpk.com/cellulose.110.html).

Figura 1. (a) Estrutura química da β-glicose e (b) fibras de celulose vistas ao microscópio. (Fonte: http://www.jpk.com/cellulose.110.html).

     O índigo era inicialmente natural, retirado de plantas do gênero Indigofera , no entanto, ao se estudar a estrutura do índigo, sua sintetização foi viabilizada e hoje é usada em grande escala pela indústria, que ocorre a partir da oxidação da anilina. O índigo é um composto com fórmula química C16H10N2O2 e apresenta como característica a presença de grupos cetônicos (C = O). É insolúvel em água, mas na forma reduzida (C – OH), torna-se solúvel.

 

Figura 2. Processo de obtenção do índigo natural.

Figura 2. Processo de obtenção do índigo natural.

 

Figura 3. Reação de obtenção do índigo sintético a partir da anilina.

Figura 3. Reação de obtenção do índigo sintético a partir da anilina.

      Diferente da maioria dos corantes, o índigo se fixa nessa fibra de maneira mecânica e não química. Este processo ocorre por meio da redução do índigo a leucoíndigo para sua solubilização em água. O índigo, inicialmente azul, torna-se amarelado em sua forma leuco. Esta segunda forma possui grande afinidade pela fibra de celulose e com a exposição ao ar ocorre a reoxidação do índigo, retornando sua cor original, o azul.

Figura 4. Reação de oxidação e redução do índigo.

Figura 4. Reação de oxidação e redução do índigo.

Figura 5. Ilustração simplificada em duas dimensões das ligações de cadeias na formação da fibra de algodão e a localização dos corantes.

Figura 5. Ilustração simplificada em duas dimensões das ligações de cadeias na formação da fibra de algodão e a localização dos corantes.

     Hoje, existem diversas técnicas para mudar o tom original (azul) em tonalidades e efeitos diferentes, para ampliar os modelos de comercialização do jeans. Entre outras, podemos destacar:

  • Clareamento: utiliza permanganato de sódio ou outro descolorante de natureza química como o cloro para deixar a peça mais clara;
  • Délavé: é uma lavagem estonada (feita com pedras) com aplicação de clareador e alvejante químico deixando o tecido mais macio e com um tom mais fraco de azul;
  • Destroyed: é semelhante a lavagem estonada com alvejante, porém, neste processo uma maior quantidade de enzimas é aplicada chegando a corroer o tecido, deixando a peça com aparência de “destruída”;

 

    Vale lembrar que mesmo que o jeans tenha se tornado mais acessível e popular entre as pessoas, ele traz um custo para o meio ambiente. No Brasil, para a fabricação de uma calça jeans são necessários 5.000 L de água (contemplando todas as etapas de produção como: lavagem, coloração, estamparia e acabamentos de um fio, tecido ou peça), além de acabar contaminando parte dos corpos hídricos com o corante sintético. Portanto, os estudos de viabilização desse processo e de diminuição desse impacto, estão cada vez mais tendo relevância e atenção.

 

 

Bibliografia:

CRQ-V. A QUÍMICA DA CALÇA JEANS, Disponível em: http://www.crqv.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=227:a-quimica-da-calca-jeans&catid=96&Itemid=2483 . Acesso em 15 de Maio de 2021

MÜNCHEN, Sinara. Jeans: a relação entre aspectos científicos, tecnológicos e sociais para o Ensino de Química. Quím. nova esc. – São Paulo-SP, BR. Vol. 37, N° 3, p. 172-179, AGOSTO 2015. Disponível em: http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc37_3/04-QS-42-13.pdf . Acesso em 15 de Maio de 2021