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Riscos a Saúde dos Túneis de Desinfecção Contra o Coronavírus


        Em ação de combate ao novo Coronavírus está sendo utilizada uma nova medida de se evitar a contaminação, os túneis de desinfecção. São túneis infláveis que, à medida que uma pessoa atravessa lentamente, por meio de um sensor de presença, borrifam substâncias desinfetantes, em nosso país essa medida já é aplicada nos estados de São Paulo, Bahia e Ceará.

        A medida, porém, possui controvérsias, além de não possuir sua eficácia comprovada, o túnel de desinfeção instalado no hospital Calisto Midlej Filho em Itabuna no estado da Bahia, utiliza de um sistema de canos de PVC que pulverizam o hipoclorito de sódio (NaClO), um sal muito utilizado na  limpeza de superfícies, presente na água sanitária, que não seria adequada para desinfecção de pessoas, pois, quando exposto, libera gás cloro, podendo gerar queimaduras na pele, além de causar irritação nas vias respiratórias e danos aos olhos. O cloro liberado, quando em contato com substâncias orgânicas naturais, geram organoclorados como trihalometanos (THM), substâncias cancerígenas prejudiciais à tireoide, e que também danificam o sistema nervoso, rins e fígado. O CREMEB (Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia), se posicionou sobre o caso, afirmando que os túneis deveriam ser desinstalados, visto que o hipoclorito de sódio é recomendado para a limpeza de objetos e não para a higienização da pele.

           Na rodoviária de Boituva no estado de São Paulo, foi instalado um túnel de desinfecção que, segundo a prefeitura do município, utiliza de uma solução de ozônio (O3) aquoso como desinfetante. Sua ação sanitizante ocorre por conta do alto poder oxidante da molécula de ozônio que estariam presentes nas gotículas borrifadas pelo túnel. De acordo com a UNESC o ozônio apresenta um poder de desinfecção 100 vezes maior que o cloro, porém sua eficácia contra o vírus Sars-CoV-2 ainda não foi comprovada. A ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) desaconselhou a utilização dos túneis e alertou para riscos à saúde que poderiam ser causados pelo ozônio, como irritação aos olhos e desconfortos respiratórios, que em casos mais graves podem causar cianose, edemas pulmonares e hipotensão, podendo levar ao óbito. Esses efeitos ocorrem por conta do efeito oxidante do ozônio que ao ser inalado danifica os brônquios e alvéolos pulmonares.

          Em nota técnica a ANVISA, afirma a falta de literatura científica que comprovem a eficácia dos túneis de desinfecção, e ratifica riscos à saúde que outros produtos desinfetantes aplicáveis em túneis de desinfecção podem oferecer:

  • Quaternários de amônio, utilizados em túneis de desinfecção em Coreaú no estado do Ceará, são surfactantes catiônicos tóxicos contra microrganismos, um exemplo é o cloreto de benzalcônio (ver figura 1), que, causa irritação na pele, e aos olhos, além de reações alérgicas.

 

 

                                                  Figura 1: Fórmula estrutural do Cloreto de Benzalcônio

 

                                                                  iago2

 

                                                           Fonte: ChemBasket Benzalkonium

 

  • Peróxido de hidrogênio (H2O2): líquido incolor com ação oxidante, sua inalação causa irritações nas vias nasais, em altas concentrações pode gerar edemas pulmonares.

 

         A ANVISA também alerta que os túneis de desinfecção poderiam gerar uma falsa sensação imunidade, o que desmotivaria a população a continuar as práticas recomendadas pela OMS de combate ao vírus.

 

BIBLIOGRAFIA

COSTA, André; GLÁUCIA, Maristela. “Cidade Cearense Instala Túneis de Desinfecção Contra Coronavírus”. Disponível em: <https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2020/05/01/cidade-cearense-instala-tuneis-de-desinfeccao-contra-coronavirus.ghtml> Acesso em: 21 de Maio de 2020.

MARQUES, Leandro. “Amônia Quaternária, o Que São Esses Compostos”. Disponível em: <https://elevagro.com/materiais-didaticos/amonia-quaternaria-o-que-sao-esses-compostos/> Acesso em: 25 de Maio de 2020

FREITAS, Álvaro. “Hipoclorito de Sódio, Perigos, Cuidados e EPI’s”. Disponível em: <https://cmcenter.com.br/pt-br/fispq/fispq-hipoclorito-de-sodio/> Acesso em: 25 de Maio de 2020.

CUZZUOL, Murilo. “A Pedido da Ceturb, Túneis de Desinfecção são Retirados de Terminais da Serra’. Disponível em: < https://www.agazeta.com.br/es/cotidiano/a-pedido-da-ceturb-tuneis-de-desinfeccao-sao-retirados-de-terminais-da-serra-0520> Acesso em 25 de Maio de 2020.

RODRIGUES, Danutta. “Inovação Implantada em Hospitais Baianos, Túnel de Desinfecção Contra Coronavírus é criticado por especialistas”. Disponível em: <https://g1.globo.com/ba/bahia/noticia/2020/05/15/inovacao-implantada-em-hospitais-baianos-tunel-de-desinfeccao-contra-coronavirus-e-criticado-por-especialistas.ghtml> Acesso em: 21 de Maio de 2020.

ANVISA Nota Técnica no 38/2020 -/SEI/COSAN/GHCOS/DIRE3/ANVISA, 7 de maio de 2020.

PREFEITURA MUNICIPAL DE BOITUVA, “Prefeitura de Boituva Apresenta Oficialmente Túnel de Desinfecção Individual Como Medida de Prevenção ao Coronavírus”. Disponível em: <https://www.boituva.sp.gov.br/post/prefeitura-de-boituva-apresenta-oficialmente-tunel-de-desinfeccao-individual-como-medida-de-prevencao-ao-coronavirus$74992> Acesso em: 21 de Maio de 2020.

ANVISA Nota Técnica no 34/2020 -/SEI/COSAN/GHCOS/DIRE3/ANVISA, 9 de abril de 2020.