Sabemos que o conhecimento da humanidade a respeito da natureza é ínfimo e constantemente buscamos aprofundar ainda mais sobre as suas particularidades. Isso fica claro, quando percebemos que em pleno desenvolvimento tecnológico ainda sabemos muito pouco sobre o corpo humano.
No inicio de 2017, vários jornais, como a BBC, e revistas cientificas divulgaram uma noticia que trouxe muitos questionamentos para a ciência, em especial a medicina, a descoberta do “novo” órgão do corpo humano: O mesentério.
Toda essa discussão partiu de um artigo publicado pela prestigiada revista científica The Lancet Gastroenterology & Hepatology assinado por J. Calvin Coffey, pesquisador do University Hospital Limerick, na Irlanda, responsável pela equipe que realizou a descoberta, e seu colega Peter O’Leary.
Esse artigo consistiu de um estudo bibliográfico feito pelo Dr. Calvin e sua equipe que compreendeu mais de 100 artigos, cominando em um apanhado geral sobre o Mesentério, como fica bem claro no titulo do artigo: The Mesentery: structure, function, and role in disease (“O Mesestério: estrutura, função e papel em doenças”, em tradução livre). Ele foi focado na anatomia, fisiologia, histologia e principalmente nos aspectos patológicos, sugerindo que algumas patologias que antes eram secundarias ao mesentério podem, hoje, ser consideradas patologias primarias, isto é, podem ter origem nele.
No entanto, a citação do mesentério não é tão nova como parece. Uma das primeiras publicações feitas sobre ele, que a principio era considerado apenas um ligamento do aparelho digestivo, foi feita no renascimento por Leonardo da Vinci em seus escritos sobre a anatomia humana no inicio do século XVI.

Figura 1:Primeira menção publicamente conhecida do mesentério foi feita por Leonardo Da Vinci, por volta de 1500 (Foto: Royal CollectionTrust © HM Queen Elizabeth II).
Você pode estar se perguntando agora: Afinal o que é e onde fica o mesentério e qual a importância dele para o corpo humano?
A resposta se baseia, primeiramente, no fato dos diversos órgãos do nosso corpo humano possuírem membranas que os protegem e os revestem, o celebro possui a meninge, o pulmão a pleura e o coração o pericárdio. Nesse sentido, as vísceras abdominais possuem uma membrana chamada peritônio que está destacado em um contorno vermelho na Figura 2, ele é dividido em dois folhetos, um externo, o parietal e um interno as vísceras, o visceral revestindo todos os órgãos abdominais e dando a eles além de proteção, a sustentação.
O mesentério, assim como o omento são dobras do peritônio, eles são geralmente confundidos, pois possuem uma coloração amarelada parecida, dada pela grande quantidade de tecido adiposo que eles possuem. A grande diferença entre os dois está nas suas posições em relação aos intestinos. O omento está anterior e o mesentério posterior aos intestinos. A posição desse ultimo acaba dando a ele a função de fixação dos intestinos junto a coluna vertebral.
O nome mesentério significa “no meio dos intestinos”. O artigo conseguiu estudar bem a fundo as porções do mesentério, concluindo uma continuidade em todo o tecido, uma característica dos órgãos.
Além disso, toda essa estrutura gordurosa e de tecido conjuntivo do mesentério possui as funções de vascularização dos intestinos, podendo assim absorver os nutrientes dos alimentos e também as substancias tóxicas para o fígado e também a funções de inervação, dando a sensibilidade através de nervos, e de imunidade através dos vasos linfáticos e os gânglios.

Figura 2: (a) corte longitudinal do abdome , (b) ilustração do mesentério de 2016 (FONTE: yokochianatomy, 1999).
Por fim, no artigo, o Dr. Calvin e sua equipe propõem um estudo do mesentério separado do sistema digestório, frisado em novas funções e, principalmente, no estudo patológico. Isso pois muitas doenças podem ter origem no mesentério, como tumores, isto é, cânceres. Além disso, a má formação do mesentério pode levar alterações intestinais. Por esses motivos o estudo deve ser feito para que o mesentério possa realmente ser promovido para a categoria de órgão.
Link para o artigo: https://drive.google.com/file/d/0B0PbITKBevY2Y2R1eFAtdC1la1U/view