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A História e Política do Mercado Nocivo de Amianto


O amianto ou asbesto é uma fibra natural inorgânica que originou-se por um processo de recristalização de rochas eruptivas, esta fibra é composta por um conjunto de minerais de silicatos hidratados de magnésio, sódio, ferro e cálcio. Existem mais de 30 tipos de fibras minerais do asbesto, mas somente seis tipos são de importância comercial, encontrado na natureza sob duas formas serpentina e anfibólios, sendo estes:

Figura 1: Tipos de Amianto Fonte: Detecção de de Fibras Amianto Detecção de Fibras de Amianto em Materiais Sólidos da Construção Civil por Microscopia Ótica de Luz Polarizada (MOLP)1

Figura 1: Tipos de Amianto
Fonte: Detecção de de Fibras Amianto Detecção de Fibras de Amianto em Materiais Sólidos da Construção Civil por Microscopia Ótica de Luz Polarizada (MOLP)1

Por ser abundante na natureza, o amianto é utilizado desde os primórdios da civilização, encontrada quando os exploradores adentravam em regiões montanhosas semiáridas. Inicialmente, era utilizado para fabricação dos primeiros artefatos refratários (resistentes ao calor). Há aproximadamente 5000 anos o amianto foi descoberto e explorado no Chipre, utilizado na produção de vestes de cremação, pavios de lamparinas de azeite.

Calímaco (310 – 240 a.C.), um exímio escritor, dentre muitas outras funções, assim como outros naquela época, haja vista que as pessoas eram muitas coisas ao mesmo tempo, cita em uma de suas obras mais notáveis, Pausânias, uma lâmpada de ouro que ardia durante o dia e a noite sem ser consumida diante da estátua de Minerva na cidade de Atenas. O pavio era composto de uma espécie de amianto.

Supõe-se que Carlos Magno O Conquistador (742 – 814 d.C.) possuía uma toalha de mesa de amianto que ao final das refeições, lançava a toalha às chamas, retirando-a intacta do fogo, causando admiração.

O escritor Heródoto (484 -425 a.C.) escreveu em suas anotações sobre o uso do amianto nos pavios das lamparinas no início da civilização grega e registrou também a alta mortalidade dos escravos por doenças pulmonares. No Egito, o amianto participava do processo de embalsamento dos corpos, sendo os mesmos envolvidos em tecido de amianto, protegendo-os de deterioração.

Teofrasto (371-287 a.C.) produziu a primeira classificação de minerais em seu Tratado sobre Pedras, “Das Pedras”, e nele descreve uma substância que se parecia com a madeira quebrada e que quando coberta pelo fogo, ela flamejava sem degradação.

Tão caras eram as teas do amianto, que Plínio as considerava como feita só para os reis. As mais finas serviam para fazer toalhas e guardanapos que, nos grandes banquetes, os convidados atiravam ao lume para os limpar: tambem dellas se faziam torcidas para as alambadas. Plinio não sabia que o amianto era um mineral, e por isso o põe entre as substancias vegetaes, chamando-lhe linho vivo.( O Panorama – Jornal Litterario e instructivo de Sociedade, pag. 64, 03 de março de 1838, Vol II).

Amiantus alumini similis nihil
igni deperdit; hic veneficiis
resistir omnibus, privatim magorum. 

O amianto, semelhante ao alúmen, não é consumido pelo fogo; resiste a toda feitiçaria, especialmente aos feiticeiros.2

Plínio (23 – 79 d.C.), Naturalis Historia (49-77 d.C.)

A crença popular entre persas e romanos de que a amianto era retirado da pele da salamandra resistente ao fogo foi sendo difundida enquanto que a sua real origem mineral foi sendo esquecida. A imagem da salamandra foi incorporada à simbologia alquimista. Posteriormente, Marco Polo (1254 – 1324) descreveu em seu Livro de Viagens Il Milione, a mineração de amianto na província chinesa de Chingitalas, desmistificando a crença da origem do amianto pela salamandra.

Entre as 30 variedades da fibra no mundo, apenas uma é utilizada atualmente em quase três mil produtos. No Brasil, o Crisotila é usado principalmente em produtos de fibrocimento, pois possui alta afinidade por outros compostos formando matrizes estáveis, como cimentos, resinas e ligantes plásticos.

Apesar de suas propriedades físico-químicas tornarem o amianto uma matéria prima de ampla utilidade, ele foi considerado cancerígeno pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Suas partículas de pó quando desprendidas na fabricação, no comércio ou na manipulação deste material, podem causar a asbestose, uma doença pulmonar causada pela inalação das partículas de asbesto, que pode levar à falência respiratória, câncer de pulmão e ao mesotelioma maligno, um tipo de câncer raro, cuja associação é praticamente exclusiva às pessoas expostas ao asbesto.

Figura 2: Fibrose pulmonar causada pela aspiração de partículas de asbesto (amianto). Fonte : MD.saúde

Figura 2: Fibrose pulmonar causada pela aspiração de partículas de asbesto (amianto).
Fonte : MD.saúde

Diversos profissionais encontram-se em risco de exposição ao manipularem a fibra de amianto, assim como os seus materiais derivados, sendo mineradores, trabalhadores da construção civil, etc.

O amianto é proibido em mais de 50 países, porém no Brasil o seu uso ainda é permitido por lei federal de 1995. São cinco estados (São Paulo, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Pernambuco) que proibiram o uso da fibra e 21 cidades onde o amianto não pode ser usado. A grande maioria das leis é questionada no Supremo Tribunal Federal (STF), com a alegação de que uma lei estadual não pode se sobrepor a uma lei federal (9055/95).

A Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (ABREA) promove a discussão sobre a política do duplo-padrão ou a política de dois pesos sobre o amianto, na qual os países desenvolvidos transferem a produção e comercialização de produtos proibidos por serem nocivos para países em desenvolvimento enquanto recorrem para alternativas mais seguras.

Diante de várias pesquisas e órgãos que comprovam a toxicidade do amianto, é necessária a conscientização para eliminar o uso do amianto por alternativas que possuam propriedades físico-químicas semelhantes, mas que não seja nocivo à saúde.

 

REFERÊNCIAS

A toalha de amianto de Carlos Magno <https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/a-toalha-de-amianto-de-carlos-magno> Acesso em: 03/05/2018.

Agenzia Regionale per La Prevenzione e Protezione Ambientale Del Veneto <http://www.arpa.veneto.it/temi-ambientali/amianto/usi-e-credenze> Acesso em: 03/05/2018;2

Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto. <http://www.abrea.com.br/o-amianto/sobre-o-amianto.html acesso em 01/05/2018> Acesso em 01/05/2018.

BERNSTEIN, David M. et al. A biopersistência do amianto crisotila brasileiro por inalação.

BIOGRAFIA UNIVERSALE, Storia per alfabeto della vita pubblica e privata di tutte le persone che si distinsero per opere, azioni, talenti, virtu’ e delitti, pag 128-129, volume 9, 1828. <https://books.google.com.br/books?id=_azVYGeNG0cC&printsec=frontcover&hl=pt-BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false> Acesso em 10/05/2018.

Cinco estados já proíbem o amianto. <https://oglobo.globo.com/economia/rio20/cinco-estados-ja-proibem-amianto-4947343#ixzz5EUSmN3xP> Acesso em 03/05/2018.

JANELA, José Manuel Esteves Marques; PEREIRA, Pedro José Silva. História do amianto no mundo e em Portugal. CEM Cultura, Espaço e Memória: Revista do CITCEM.

Mesotelioma e asbestose – causas, sintomas e tratamento <https://www.mdsaude.com/2010/06/mesotelioma-asbesto-asbestose-amianto.html> Acesso em: 03/05/2018.

O panorama: jornal litterario e instructivo de Sociedade, pág 64, 03 de março de 1838, Vol II). <https://books.google.com.br/books?id=xHE-AAAAYAAJ&pg=RA1-PA67&lpg=RA1-PA67&dq=pl%C3%ADnio+o+novo+e+o+amianto&source=bl&ots=8Fpen2Rbyz&sig=M4svynJcgFsBkcE3ZU4VYiejWVA&hl=pt-BR&sa=X&ved=2ahUKEwin0anbkO3aAhWLfZAKHe83Dx8Q6AEwCHoECAAQSw#v=onepage&q=plinio&f=false> Acesso em: 04/05/2018.

Panorama mundial de países que baniram o uso de amianto <http://www.conselho.saude.pr.gov.br/arquivos/File/RELACAO_DOS_PAISES_QUE_BANIRAM_O_USO_DE_AMIANTO.pdf> Acesso em: 03/05/2018.

PIRES, FABIANA CARVALHO. O PERIGO DO AMIANTO: CONSEQUÊNCIAS CAUSADAS À SAÚDE HUMANA ATRAVÉS DA EXPOSIÇÃO OCUPACIONAL. 2017.

SAMPAIO, Joana Helena Peixoto. Deteção de fibras de amianto em materiais sólidos da construção civil por microscopia ótica de luz polarizada (MOLP). 2016. Tese de Doutorado.