bee

QUINTERESSANTE! Cafeína no néctar floral realça a memória de recompensa de abelhas


A cafeína atua como um estimulante no organismo. Seus efeitos dependem de inúmeros fatores tais como a tolerância de determinadas pessoas, e a quantidade ingerida. No geral, seus benefícios são: o aumento de alerta mental a curto prazo, energia e habilidade de concentração

 As plantas, normalmente, utilizam a cafeína como um mecanismo de defesa. Em grande quantidade, ela é tóxica para alguns insetos, paralisando e matando-os. Dessa forma, muitas plantas acabam armazenando cafeína em suas folhas, sementes e frutos, os quais de outra maneira seriam alvos de inúmeros insetos parasitas.

Um estudo feito por cientistas britânicos e americanos analisou os efeitos da cafeína sobre a memória de longo prazo das abelhas e percebeu que a substância afeta drasticamente a forma como esses insetos se lembram do cheiro das flores que polinizam.

Na revista Science, o pesquisador Dr. Geraldine Wright explica que a cafeína produz nas abelhas uma vontade de sempre querer voltar naquelas plantas que armazenam cafeína, e não voltam simplesmente porque querem, e sim porque a substância faz com que elas sejam capazes de lembrarem-se exatamente onde aquelas plantas estão.

Para as abelhas, é difícil lembrar as características de cada flor polinizada, e realizar a tarefa em um ritmo rápido, mas a cafeína ajuda a abelha a lembrar, e elas acabam voando de flor em flor de forma ágil. Por sua vez, as abelhas que se alimentam com a cafeína encontrada no néctar são carregadas com este pólen, e ficam pesquisando quais outras plantas também possuem cafeína. Isso faz com que aumente e melhore o processo de polinização das plantas em geral”.

O néctar das flores de muitas plantas contém, além de açúcar, compostos como cafeína e nicotina. Em altas concentrações, o gosto amargo dessas substâncias repele os animais, mas quando as dosagens são baixas as abelhas parecem preferir o néctar com cafeína.

As plantas precisam garantir que as abelhas não consumam muita cafeína, devido ao seu gosto já, mas apenas o suficiente para desencadeamento e aumento da memória das abelhas. Segundo o estudo, as abelhas estavam três vezes mais propensas a lembrar da localização de uma flor que continha cafeína após 24 horas, em comparação a uma flor sem cafeína. Mesmo três dias após a polinização, as abelhas ainda estavam com grandes probabilidades de ser capazes de encontrar essas flores.

Segundo os pesquisadores, as flores das plantas pertencentes aos gêneros Coffea e Citrus reúnem a quantidade certa de cafeína para atrair os insetos polinizadores – responsáveis pela fertilização das flores por meio da transferência de grãos de pólen.

Em um experimento, os cientistas treinaram abelhas para associar um aroma floral a uma recompensa de açúcar. Os insetos que perceberam o cheiro também estenderam a “boca” em forma de tubo, como se esperassem pelo “presente”. Quando a recompensa continha ainda cafeína, o triplo de abelhas se recordou do aroma ao fim de 24 horas e o dobro lembrava-se dele três dias depois.bee

Fig 1. Abelha polinizando uma flor.

Ao olhar com atenção para o cérebro das abelhas, os autores descobriram que a cafeína desencadeia mudanças no potencial da membrana dos neurônios envolvidos na aprendizagem e na memória olfativa. Segundo os pesquisadores, se a cafeína é capaz de ajudar os insetos a se lembrar das características de certas flores, eles poderiam se tornar mais propensos a continuar fiéis a essas plantas – uma enorme vantagem para a manutenção da espécie.

Ainda de acordo com os pesquisadores, o cérebro humano possui traços semelhantes quando comparado ao comportamento das abelhas. O Dr. Wright sugere que os benefícios da memória nas abelhas podem ajudar a explicar por que as pessoas tendem a beber café ao executar uma tarefa que exige o uso da memória intensiva, como estudar por exemplo.

Fonte: WRIGHT, G. A., et al.; Caffeine in floral nectar enhances a pollinator’s memory of reward; Science; v. 339; p. 1202-1204; 2008.

Documento completo disponível para acesso livre de dentro de universidades no site:

 http://www.sciencemag.org/content/339/6124/1202.full