Modelos Gerais Para Obtenção de Princípios Ativos em Plantas Medicinais


A utilização de plantas medicinais tem caráter símbolo de resistência em muitos povos, principalmente nas áreas mais pobres. Em grandes centros de vendas no Brasil e no mundo, as plantas medicinais são comercializadas de forma aberta e muitas vezes sem prescrição. A ideia propagada de que produtos naturais não oferecem mal a saúde ainda é bastante enraizada na cultura mundial.

A aceitação de tratamentos terapêuticos advindos de vegetais e a difusão do saber popular implicaram no aumento dos estudos na área, contribuindo atualmente com a descoberta de inúmeras fórmulas e princípios ativos utilizados nos medicamentos. A morfina é um dos exemplos de princípios ativos descobertos a partir de plantas medicinais.

A busca do entendimento sobre a ação de plantas medicinais veio com a crença popular. As plantas medicinais possuem grandes variedades de compostos que poderiam ser analisados. No entanto, por muito tempo perdurou a técnica de fitoquímica clássica, onde apenas os compostos de maior quantidade eram analisados. Graças aos avanços encontrados na ciência (técnicas espectroscópicas e melhores métodos de extração) tornou-se possível, além da separação quantitativa de outros metabólitos importantes, a elucidação estrutural dos mesmos.

A obtenção de extratos a partir de plantas vem sendo descritos através de diversas metodologias, as quais dependem do seu posterior uso. No caso das plantas medicinais, o uso fitoterápico requer que os compostos extraídos tenham a menor taxa de degradação durante o processo e que os produtos possam se manter inalterados. Um tipo de extração bastante comum é a preparação de um extrato hidroalcoólico. Em muitos casos citados, o metanol é considerado o melhor solvente para extração de um maior número de compostos. A partir desse ponto, o extrato deve ser submetido a alguns tratamentos que visam a separação química de seus compostos:

  • Partição Líquido – Líquido: utilizam-se diferentes solventes para que as substâncias sejam separadas de acordo com as suas similaridades, tornando os extratos mais puros. Alguns exemplos de compostos podem ser vistos na Figura 1.
    Figura 1 Tipos de solventes utilizados para separação qualitativa em extratos vegetais

    Figura 1 Tipos de solventes utilizados para separação qualitativa em extratos vegetais

    É importante afirmar que esses métodos são utilizados quando não se sabem os resultados esperados. Caso já se tenha conhecimentos preestabelecidos, podem ser utilizados métodos mais específicos. Por exemplo, se nas plantas da mesma família que as estudadas são encontrados terpenos, podem ser utilizadas metodologias específicas para o melhor tratamento dessa amostra.

    • Devem ser analisadas as atividades biológicas dos extratos provenientes das extrações liquido-líquido. Geralmente são utilizadas como parâmetros, além do baixo custo e da reprodutividade, as atividades antifúngicas, anti-inflamatórias, analgésicas, entre outras.
    • Os melhores extratos obtidos nos testes biológicos são, então, passados por etapas de purificação, que consistem em técnicas cromatográficas, dentre as quais podem ser citadas: cromatografia em coluna aberta (CC), em camada delgada (CCD) ou cromatografias especiais como a liquida de alta eficiência (CLAE).
    • Depois de separados quimicamente, ocorrem às etapas de elucidação estrutural a partir da combinação de variadas técnicas, como a ressonância magnética nuclear (RMN), ultravioleta (UV), inframervelho (IV) e espetroscopia de massas (MS), aliado a técnicas mais sofisticadas de RMN e difração de raios – X.
    • Posteriormente ao processo de obtenção estrutural, podem ser utilizadas rotas para modificação estrutural, principalmente para compostos que não possuem atividades biológicas, mas que neles podem ser visualizados sítios comuns a outros compostos ativos biologicamente. Para esses fins são utilizadas técnicas de correlação das estruturas com inúmeros sitos ativos catalogados (Para saber mais pesquisar sobre SAR e QSAR), cujo objetivo é obter novas moléculas ativas de forma mais racional.

    BIBLIOGRAFIA

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    MACIEL, M. A. M. et al. Plantas medicinais: A necessidade de estudos multidisciplinares. Quimica Nova, v. 25, n. 3, p. 429–438, 2002.

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