Imagem 1: Algumas das cidades em que foram realizadas a Marcha Pela Ciência (FONTE: March for Science).

Marcha Pela Ciência: Quando os pesquisadores saem do laboratório.


O último dia mundial da Terra, 22 de abril, foi marcado por um evento acontecido em dezenas de países: a Marcha Pela Ciência. Segundo os organizadores1, mais de seiscentas marchas foram realizadas ao redor do globo. Um levantamento realizado pela revista Science2 evidencia a diversidade dos manifestantes: alguns tinham fervorosas mensagens a políticos, outros fizeram uma calma conversa com seus vizinhos. Desde as grandes manifestações com dezenas de milhares, até o caminhante solitário em uma ilha remota do Alaska, todos tinham um objetivo em comum: mostrar às autoridades a necessidade de promulgar políticas baseadas em evidências de interesse público.

 

Imagem 1: Algumas das cidades em que foram realizadas a Marcha Pela Ciência (FONTE: March for Science).

Imagem 1: Algumas das cidades em que foram realizadas a Marcha Pela Ciência (FONTE: March for Science).

O Brasil também não poderia ficar de fora desse evento. Os sucessíveis ajustes fiscais realizados pelo governo nacional se refletem na verba destinada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. Apesar de a Lei Orçamentária prever R$ 5 bilhões, o ministério só receberá R$ 2,8 bilhões em 20173. Esse é o menor orçamento em doze anos, quase metade do ano anterior.

 

Imagem 2: Recursos destinados ao Ministério da Ciência desde 2005. (Gráfico: Nexo Jornal; Dados: Siga Brasil; *Valores corrigidos pelo IPCA acumulado até dezembro de 2016).

Imagem 2: Recursos destinados ao Ministério da Ciência desde 2005. (Gráfico: Nexo Jornal; Dados: Siga Brasil; *Valores corrigidos pelo IPCA acumulado até dezembro de 2016).

 

“Se estivéssemos em guerra, poderíamos pensar que essa é uma estratégia de alguma potência estrangeira para destruir nosso país. Mas, em vez disso, nós estamos fazendo isso com nós mesmos.” Afirmou à Nature4 o físico Luiz Davidovich, presidente da Academia Brasileira de Ciência (ABC). Ele chamou o corte de gastos de “ataque de bomba atômica a ciência brasileira.”

Em entrevista ao jornal eletrônico Nexo, Mayana Zatz, professora titular do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), comparou o orçamento brasileiro, menos de 1% do PIB, com o de outros países: mais de 4% em Israel e Coreia do Sul; União Europeia pretendendo chegar a 3% em 2020. “Com esse corte e com a enorme burocracia torna-se cada vez mais difícil fazer uma pesquisa competitiva no Brasil” afirmou a professora.

Ao mesmo site, Helena Nader, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) tocou no X da questão: “O Brasil deu um grande passo para trás, ao considerar que ciência, tecnologia e inovação são gastos, e não investimentos, e a permitir cortes crescentes na área”.

A Marcha Pela Ciência teve diversas formas, dependendo de onde foi realizada. Em São Paulo, teve um aspecto de feira científica, com réplicas de fósseis e roda de conversa sobre vacinas, mesmo sob chuva5. Em Natal, foram realizadas trilhas no parque da cidade e uma simulação de uma estação humana em Marte6. No Rio de Janeiro, além da Marcha em si, foram realizadas atividades complementares de 23 a 28 de abril.

 

 

Imagem 3: Participantes da Marcha pela Ciência no largo da Batata, em São Paulo. (FONTE: Marcha Pela Ciência São Paulo).

Imagem 3: Participantes da Marcha pela Ciência no largo da Batata, em São Paulo. (FONTE: Marcha Pela Ciência São Paulo).

 

Em Fortaleza, a Marcha Pela Ciência foi organizada pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Ela aconteceu na XII Bienal Internacional do Livro do Ceará, no Centro de Eventos. Ao jornal Diário do Nordeste8, Antônio Gomes de Souza Filho, pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da UFC, reafirmou a importância da pesquisa científica para a sociedade. “Sem a ciência não tem desenvolvimento econômico, ambiental e muito menos social. Os grandes problemas enfrentados hoje pela humanidade, tais como aquecimento global e epidemias só poderão ser enfrentados com ciência” afirmou.

 

Imagem 4: Marcha pela Ciência em Fortaleza (FONTE: Nossa Ciência).

Imagem 4: Marcha pela Ciência em Fortaleza (FONTE: Nossa Ciência).

 

Referências

[1] March for Science. Disponível em: <www.marchforscience.com>. Acesso em 07 de maio de 2017.

[2] SCIENCE. Meet the science marchers. Disponível em: < http://science.sciencemag.org/content/356/6336/358>. Acesso em 07 de maio de 2017.

[3] NEXO. Como os cientistas reagem ao menor orçamento federal para a área em 12 anos. Disponível em: <www.nexojornal.com.br/expresso/2017/04/18/Como-os-cientistas-reagem-ao-menor-or%C3%A7amento-federal-para-a-%C3%A1rea-em-12-anos>. Acesso em 07 de maio de 2017.

[4] NATURE. Brasilian scientists reeling as federal funds slashed by nerarly half. Disponível em: <www.nature.com/news/brazilian-scientists-reeling-as-federal-funds-slashed-by-nearly-half-1.21766#/Drastic>. Acesso em 07 de maio de 2017.

[5] Marcha Pela Ciência – São Paulo. Disponível em: <www.marchapelacienciasp.com>. Acesso em 07 de maio de 2017.

[6] G1. Organizador do evento fala sobre a “Marcha

pela Ciência” em Natal. Disponível em: <www.g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/bom-dia-rn/videos/v/organizador-do-evento-fala-sobre-a-marcha-pela-ciencia-em-natal/5816689>. Acesso em 07 de maio de 2017.

[7] Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência. Rio de Janeiro também terá “Marcha Pela Ciência”. Disponível em: <www.sbpcnet.org.br/site/noticias/materias/detalhe.php?id=5998>. Acesso em 07 de maio de 2017.

[8] DIÁRIO DO NORDESTE. UFC e SBPC realizam “Marcha Pela Ciência”. Disponível em: <www.diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/cidade/ufc-e-sbpc-realizam-marcha-pela-ciencia-1.1742023>. Acesso em 07 de maio de 2017