Desde os primórdios da humanidade, busca-se utilizar elementos químicos existentes para o benefício próprio. Técnicas antigas que utilizavam elementos naturais em tratamentos de doenças, metalurgia e outros fins, possuíam características religiosas que em certos casos levaram a avaliações erradas. Porém, em diversos momentos foram descobertos compostos com utilidades que estão presentes até hoje. Esta matéria mostrará casos de utilização de substâncias químicas para finalidades que a literatura atual mostra não ser a ideal.
A tabela a seguir mostra a descrição da utilização de certos compostos entre os anos 1890-1950 e o que se sabe atualmente sobre os riscos da utilização das mesmas:
Tabela 01: Emprego de produtos químicos perigosos no passado
Composto | Aplicações de outrora | Efeitos colaterais/tóxicos hoje conhecidos |
NH3 (Amônia) | Uso interno no combate à embriaguez, sendo ingerido dissolvido em água (solução a 0,1- 0,5%) e em pequenas doses19 | Os sintomas de exposição prolongada são irritação dos olhos, nariz e garganta; dispneia, bronco espasmo e dor no peito, além de queimaduras na pele e vascularização. DL50 = 350 mg kg-1 (rato, via oral, solução a 29%) |
CHCl3 (Clorofórmio) | Uso interno (dose de 1 mL) no tratamento de cólicas, diarréia, flatulência, epilepsia, tétano, tosse espasmódica e asma; seu uso externo era puro no tratamento de reumatismo e artrite25. No século XIX e no início do XX, foi usado como anestésico | Nocivo por ingestão. Irritante para a pele. Possibilidade de efeitos cancerígenos. Risco de efeitos graves para a saúde em caso de exposição prolongada por inalação e ingestão. Poluente hídrico. DL50 = 908 mg kg-1 (rato, via oral) |
Petróleo | Uso interno como expectorante e vermífugo; uso externo como antisséptico e para tratamento de doenças de pele. Em cada dose o paciente tomava 1-2 mL do produto | A toxicidade depende da composição do óleo. Alguns óleos crus e frações provocam tumores malignos e benignos em ratos, após aplicação sobre a pele. A DL50 depende do óleo considerado |
HCl (Ácido clorídrico) | Era empregado com uso interno, a fim de aumentar a ação digestiva do estômago. Era administrado em forma de solução (0,2:100) | Sua ingestão, inalação de seus fumos ou contato com a pele pode causar queimaduras. A inalação durante 1 h de HCl numa concentração de 3124 ppm mata 50% dos ratos submetidos a esse teste. |
Fonte: Adaptado de PIMENTEL, L.C.F.; CHAVES, C.R.; FREIRE, L.A.A. e AFONSO, J.C. O inacreditável emprego de produtos químicos perigosos no passado. Química Nova, v. 29, n. 5, p. 1138-1149, 2006.
Muitas das aplicações apresentadas parecem absurdas no contexto atual, mas com o avanço de leis de regulamentação de condições de trabalho junto de estudos de toxicidade e outros fatores de risco que nos permite ampliar nosso conhecimento do que é nocivo aos seres humanos, isto leva aos diversos parâmetros e testes por quais novos produtos tem de passar antes de chegar ao público. A toxicologia estabelece o fator da dose letal (DL50), que indica a quantidade de determinada substância, que ingerida por via oral em única dose gera morte de 50% de um grupo de seres de determinada espécie em 14 dias.
O olhar sobre esses erros nocivos nos mostra que é fundamental expandir o conhecimento sobre as substâncias que nos cercam, mesmo aquelas que já se tornaram presentes no cotidiano.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PIMENTEL, L.C.F.; CHAVES, C.R.; FREIRE, L.A.A. e AFONSO, J.C. O inacreditável emprego de produtos químicos perigosos no passado. Química Nova, v. 29, n. 5, p. 1138-1149, 2006.