Figura 2: Compostos Carabinóides presentes nos fármacos Marinol® e Cesamet®.

Quinteressante! Aspectos Terapêuticos da Cannabis Sativa


Figura1: Folha de Cannabis Sativa.

Figura1: Folha de Cannabis Sativa.

Uma planta que apresenta grande potencial terapêutico, apesar de suas propriedades psicotrópicas, é a Cannabis Sativa L. Desde logo, é importante deixar bem claro que o uso de drogas como maconha e outras substâncias alucinógenas ou psicotrópicas, sem orientação médica, é perigoso. O vício das drogas prejudica os jovens e constitui um problema social. A forma de resolvê-lo é uma discussão em aberto, mas não é o tema principal dessa postagem. Aqui, serão informados os efeitos medicinais da maconha, o porquê que os médicos desenvolvem cada vez mais pesquisas nessa área, e por que, muitos deles, concluíram pela recomendação do uso terapêutico dessa droga.

Esta planta vem sendo utilizada, há séculos, pela humanidade para diversos fins, tais como alimentação, rituais religiosos e práticas medicinais. O primeiro relato medicinal da planta Cannabis foi atribuído aos chineses, que descreveram os potenciais terapêuticos desta planta no Pen-T’s ao Ching (considerada a primeira farmacopéia conhecida do mundo) há 2000 anos atrás. Os assírios, cerca de 300 anos atrás, consideravam a Cannabis como o principal medicamento de sua farmacopéia e a chamavam de acordo com o seu uso: qunnabu, quando a planta era utilizada em rituais religiosos; azallu, um termo medicinal assim como hemp; gan-zi-gun-nu, o qual significava “a droga que extrai a mente”.

A potencialidade medicinal da Cannabis está ligada ao grande número de substâncias químicas que já foi encontrado em amostras desta planta, sendo a principal classe a dos canabinóides. O termo canabinóides foi atribuído ao grupo de compostos com 21 átomos de carbono presentes na Cannabis Sativa, além dos respectivos ácidos carboxílicos, análogos e possíveis produtos de transformação.

O uso medicinal da Cannabis hoje é permitido em alguns estados americanos e em países como Holanda e Bélgica, para aliviar sintomas relacionados ao tratamento de câncer, AIDS, esclerose múltipla e síndrome de Tourette (que causa movimentos involuntários). Muitos oncologistas e pacientes defendem o uso da Cannabis, ou do – THC (seu principal componente psicoativo), figura 1, como agente antiemético, agem no organismo evitando enjôos e náuseas, mas, quando comparada com outros agentes terapêuticos, a Cannabis tem um efeito menor do que os fármacos já existentes. Contudo, seus efeitos podem ser aumentados quando associados com outros antieméticos. Desta maneira, o uso da Cannabis na quimioterapia pode ser eficiente em pacientes apresentando náuseas e vômitos, sintomas que não são controlados com outros medicamentos.

Medicamentos que contém canabinóides em seu princípio ativo são comercializados para controle de náuse produzidas durante tratamentos de quimioterapia e como estimulantes do apetite, durante processos de anorexia desenvolvidos em pacientes com AIDS. Embora os canabinóides exerçam efeitos diretos sobre um determinado número de órgãos, incluindo os sistemas imunológicos e reprodutivo, os principais efeitos farmacológicos observados estão relacionados ao sistema nervoso central. Alguns exemplos das aplicações terapêuticas dos canabinóides são efeito analgésico, controle de espasmos em pacientes portadores de esclerose múltipla, tratamento de glaucoma, efeito broncodilatador, efeito anticonvulsivo, etc. Alguns efeitos colaterais podem acompanhar os efeitos terapêuticos citados acima, tais como, alteralções na cognição e memória, euforia, depressão, efeito sedativo e outros.

Os efeitos adversos da Cannabis podem ser divididos em duas categorias: os efeitos do hábito de fumar a planta e os causados pelas principais substâncias isoladas (canabinóides). O fumo crônico da maconha provoca alterações das células do trato respiratório e aumenta a incidência de câncer de pulmão entre os usuários. Um dos efeitos associados ao longo tempo de exposição aos canabinóides é a dependência dos efeitos psicoativos com a cessação do uso. Os sintomas da dependência dos efeitos psicotrópicos da planta incluem agitação, insônia, irritabilidade, náusea e câimbras. Pesquisas também mostram que a Cannabis não causa dependência física (como cocaína, heroína, cafeína e nicotina) e que a suspensão do uso não causa síndrome de abstinência (como o álcool e a heroína). Seu uso prolongado em certas circunstâncias causa dependência psicológica, e pode levar ao consumo de outras drogas. Por ser uma poderosa droga psicotrópica e alucinogênica, seu uso indiscriminado é perigoso.

Apesar de apresentar atividades terapêuticas comprovadas por pesquisas, o efeito colateral, isto é, a psicoatividade, ainda funciona como um obstáculo quanto à utilização da planta Cannabis como finalidade terapêutica.

Figura 2: Compostos Carabinóides presentes nos fármacos Marinol® e Cesamet®.

Figura 2: Compostos Carabinóides presentes nos fármacos Marinol® e Cesamet®.

Referência

K. M. HONÓRIO; A. ARROIO; A. B. F. SILVA. Aspectos terapêuticos de compostos da planta Cannabis Sativa. Química Nova, vol. 29, Nº 2, 318-325, 2006.