As mudanças climáticas não são os únicos problemas causados pelo excesso de CO2 na atmosfera. O processo de acidificação dos oceanos é extremamente perigoso e pode acabar com a vida marinha.
A acidificação começou desde a primeira revolução industrial, em meados do século XVIII, quando a emissão de poluentes aumentou rápida e significativamente devido à instalação das indústrias por toda a Europa. Desde então, a acidez dos oceanos já aumentou em 30%.
Mas como se dá esse processo? Estudos demonstram que, ao longo da história, 30% do CO2 emitido pela ação do homem vão parar no oceano. Quando a água (H2O(l)) e esse gás se encontram, é formado o ácido carbônico (H2CO3) que se dissocia no mar, formando íons de trióxido de carbono (CO32-) e hidrogênio (H+). O nível de acidez se dá através da quantidade de íons H+ presentes em uma solução – nesse caso, a água do mar. Quanto maior as emissões, maior a quantidade de íons H+ e mais ácido os oceanos ficam.
Figura 1. Esquema de solubilização do gás carbônico.
Estudos preliminares apontam que a acidificação dos oceanos afeta diretamente organismos calcificadores, como alguns tipos de mariscos, algas, corais, plânctons e moluscos, dificultando sua capacidade de formar conchas, levando ao seu desaparecimento.
Isso porque a acidez elevada diminui a concentração/disponibilidade de íon carbonato para o plâncton e espécies de conchas que fixam carbonato de cálcio. Uma vez que o pH “limite” é atingido por um dado organismo, ele não pode mais fixar carbonato de cálcio nas suas conchas e é ameaçado de extinção local. Esses organismos fixadores de carbonato de cálcio, principalmente fitoplâncton e zooplâncton, e também alguns moluscos, servem como base de muitas das cadeias alimentares marinhas em vários tipos de ecossistema, realçando o impacto potencial da acidificação em ecossistemas inteiros.
Figura 2. Animais marinhos.
Um estudo apontou o oceano Ártico como o mais vulnerável, porque as águas frias absorvem mais CO2. De acordo com os cientistas, sem uma redução nas emissões ou outro tipo de controle sobre este gás, a tendência é que o pH dos oceanos se torne ainda mais ácido.
A geoengenharia desenvolveu algumas hipóteses para acabar com esse problema. Uma delas é usar o ferro para “fertilizar” os oceanos. Dessa forma, as partículas desse metal estimulariam o crescimento dos plânctons que, por sua vez, absorveriam o CO2 que, ao morrer, levaria o gás carbônico para o fundo do mar. Na realidade, as emissões de gás carbônico deveriam ser o foco da discussão já que essas não afetam apenas a vida marinha.
A acidificação dos oceanos pode ter graves consequências para os ecossistemas marinhos. No entanto, a avaliação de seu impacto futuro é difícil, porque experimentos de laboratório e observações de campo são limitados por sua complexidade ecológica e reduzido período de amostragem, respectivamente. Em contraste, o registro geológico contém indícios de longo prazo para uma variedade de perturbações ambientais globais, incluindo acidificação dos oceanos além de suas respostas bióticas associadas.
O artigo The Geological Record of Ocean Acidification relata o registro geológico de até 300 milhões de anos para mostrar evidências da elevada concentração de CO2 atmosférico e do processo de acidificação dos oceanos; e relaciona a rápida e sem precedentes atual emissão de CO2 com projeções futuras de seus impactos na vida marinha.
Figura 3. Sistema de captura do gás carbônico para a superfície de rochas marinhas.
Referência bibliográfica: <http://instaar.colorado.edu/~marchitt/reprints/hoenischscience12.pdf>